Quando
se discute sobre nossa época atual muitas questões são levantadas, porém uma
das coisas mais relevantes que particularmente gosto de pensar é sobre as
relações interpessoais e como elas se dão.
As
sociedades mudaram muito até chegar ao que temos hoje, tanto por conta dos
avanços tecnológicos como os da própria mentalidade dos indivíduos. Porém,
muitos acreditam que em determinados momentos há uma regressão no sentido
social.
Lamarck,
naturalista francês, formulou uma teoria chamada “Lei do Uso e Desuso”, que foi
de grande interesse com relação à adaptação de animais para o ramo da biologia. Contudo, atualmente esse termo teria um
justo novo significado para designar os relacionamentos sociais. Seria o novo
uso e desuso que consistiria então na “objetificação” do outro e posteriormente
o seu descarte, como se fossemos embalagens de papel ou plástico. Daí por
diante o outro vira meramente algo para suprir nossos desejos, ânsias e
carência e não mais passa a ser visto como de fato “ser humano”.
Não
só a coisificação é tamanha nessa era, como também a carência propriamente
dita. Os indivíduos carecem principalmente de atenção e por isso se torna cada
vez mais comum desabafos e postagens sobre o “sentimento do dia” em redes
sociais. E não mais as pessoas vão de imediato procurar alguém específico de
sua confiança (amigos, parentes, etc) para contar o que aconteceu ou está
acontecendo e sim sacar o celular e escrever algumas palavras melancólicas que
vem a mente e compartilhar para 100, 200, várias pessoas perceberem. Existe,
portanto, uma clara percepção de que o “eu” precisa ser notado urgentemente e
que suas emoções tem que fazer valer, pois só assim poderão ser consoladas.
Com tantas tecnologias em alta há quem afirme que vamos nos
“desumanizando” a medida que se tem um avanço nesse ramo. O que seria um
pensamento um pouco equivocado. A verdade é que não nos tornamos menos humanos
a medida que as tecnologias avançam e sim a medida que coisificamos o outro
como meramente objeto, quando deixamos a nossa verdadeira essência se esvair para
nos adequarmos aos padrões impostos e quando tornamos nossos sentimentos virtuais
e padronizados.
De fato Zygmunt Bauman estava certo quando afirmava sobre a liquidez
nas relações humanas e os tempos líquidos. Tudo parece então ter um prazo de
validade e quando afirmo “tudo” infelizmente os seres humanos modernos e suas
interações entram nesse contexto.
O fato é que nos transformamos em entes de opinião. Somos como antenas metálicas gigantescas, bem visíveis, que atraem a opinião dos outros e que também emite a nossa sobre os outros. A ideia que fazemos de nós mesmos já não é tão importante, é um tipo de individualismo estranho, paradoxal eu diria. Gostei do Blog.
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