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Todas Marias

quinta-feira, 17 de março de 2016

Alguns poemas, como os de Drummond, não passam de mão em mão sem ser notados. Quando tive meu primeiro contato com o poema “José”, diversas coisas se passaram pela minha cabeça. E depois, em meio a (re)leitura desse poema, acabei tendo minhas próprias divagações e pensei “porque não dar uma voz feminina a ele?” E foi assim que criei MARIA. O intuito maior não era trazer ao meu as mesmas características e visões do original e sim mostrar através dele algumas realidades dos diversos universos e quotidianos femininos que nos deparamos. Esse poema é sobre a mulher que sofre, mas não desiste e luta. É também tanto para aquela que é mãe e passa aperto quanto para a que sofre na mão de um conjugue.

Sinceramente, não caberiam em estrofes suficientes todas as “Marias”, até porque são muitas realidades diferentes, mas no final das contas creio que somos todas Marias de um jeito ou de outro, porém cada uma de uma forma diferente, com a sua própria singularidade. E é isso o que nos torna únicas.


MARIA

E agora, Maria?
O leite acabou
A criança chorou
E você tem contas pra pagar
E agora?

Silêncio, Maria!
Você que é sem nome
 Você que não dorme nem come
Só sente o gosto do amargo
E do sangue
Silêncio...

Já está sem consolo
Já está sem perspectiva
E o respeito não mais tem
 E agora, Maria?

Você que apanha todo dia
 Você que sofre com as infâmias e regalias
 Você que é sem nome...
Já não há quem a represente
 E as mazelas são crescentes
E agora?

Mas você não desiste, Maria!
Você luta a cada dia
 Incansavelmente
 E marcha rumo ao seu destino
Maria, para onde?



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