Já se deu conta
de que ao conversar com alguém, seja intimo ou não, temos a tendência a não
olhar nos olhos? Ou até mesmo olhar, mas desviar logo em seguida? Depois de
participar de uma oficina, comecei a me deparar mais com essas questões.
O que há de tão
intrigante e ao mesmo tempo incômodo num olhar? Podemos proferir palavras “da
boca pra fora”, ou seja, mentiras e até mesmo coisas que não acreditamos.
Podemos até mesmo realizar ações por pura “obrigação”, de forma mecânica, não
realizando assim as verdadeiras ânsias de nossos corpos. Porém, um olhar nunca
pode ser dado de qualquer maneira. O corpo fala! Cada parte de nosso ser grita
em meio a silêncios, sobretudo nossos olhos.
Há quem diga que
os olhos são as janelas da alma. Certamente existe uma profundidade por trás
que nos permite acreditar nessa sentença. Ao olhar diretamente para os olhos de
alguém, principalmente quando se está perto, nota-se uma diferença nas
expressões e na atmosfera. Nesse momento somos capazes de penetrar no outro em
meio a silêncios e descobrir coisas de modo simples, porém sublime.
Sei que é
difícil sustentar tal olhar, já que parece haver algo de invasivo nele. Sem
conversas o outro é capaz de me descobrir, de perceber sutilmente minhas
intenções. Sentimos que estamos nus, sem barreiras ou vestes confortáveis; a
zona de conforto é convidada a nos deixar, mesmo que momentaneamente.
Não
só a percepção do outro é possível, mas também a percepção de si mesmo. Ao nos
depararmos com rosto no espelho não temos como nos esquivar mais. Cada detalhe,
antes negligenciado, é notado. Posso até observar e fisicamente só apontar
defeitos; manchas, olheiras, vermelhidões, desalinhamento de alguma parte
específica, etc. Entretanto, ao pousar o olhar acusador nos nossos próprios
olhos e ali nos demorarmos, muitas coisas são reveladas e os julgamentos, mesmo
que momentaneamente, esquecidos. Somos capazes de ter um encontro pessoal com
nós mesmos.
Conseguimos,
dessa forma, penetrar em nós mesmos. As histórias que vivemos, nossos medos, nossa
solidão, pequenez... Ao mesmo tempo em que somos capazes de nos depararmos com
esses fantasmas, passamos também a sermos capazes de enfrenta-los em
silêncio. Podemos sentir vontade de
chorar e vez ou outra até derramar alguma lágrima diante dessa situação, mas
também podemos sentir uma alegria súbita e apenas sorrir singelamente. Tomando
posse da beleza que existe dentro de nós. Revolução de dentro para fora. Vem à
tona aquilo que aprisionamos, mantemos trancado e flui de forma tão orgânica
que nem temos total controle.
Por isso, esses
constrangimentos acontecem, pois temos contato com algo que é tão nosso e ao
mesmo tempo tão do outro, mas que em meio a quotidianos agitados (na qual temos
a urgência de medir o tempo pura e simplesmente por horas e consequentemente
pelos compromissos atrelados a elas) esquecemos ou até mesmo enterramos isso. O
contato, ligação, laços feitos, apenas com um simples olhar. O quão profundo
isso pode ser a ponto de causar até medo ou vergonha em alguém? Qual é o
“ápice” humano de que tanto alguns falam que chegamos, na qual o toque
despretensioso e o aprofundar das conexões humanas são tão incômodos e às vezes
dolorosos?
Reestabelecer,
reconectar, aprofundar e deixar ser e fluir livremente. Eis o ponto chave.
Nenhum comentário:
Postar um comentário